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quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

 

Os Ciborgues e Bakhtin - Partes 1 e 2

ARTE - VIRTUAL - ESCOLA

Os Ciborgues e Bakhtin

Aluno: Paulo Francisco Slomp

Parte 1
A primeira parte do presente trabalho está dedicada a uma exposição e a uma discussão das idéias exibidas em duas páginas da Internet que apresentam textos e imagens sobre os "Corpos Ciborgues".
Inicialmente faremos um breve resumo do hiperdocumento de Verena Kuni "Corpos Míticos II". Destaca-se, logo no segundo parágrafo, a referência ao filme Tron, filme no qual ocorre o ingresso de humanos em circuitos digitais e o que seria nos dias presentes uma atualização dessa ficção: o ingresso de humanos no Ciber Espaço.
As referências cinematográficas prosseguem com a citação de Philip K. Dick. Ele é o autor do livro que inspirou a criação do filme cult "Blade Runner: O Caçador de Andróides". Tive a oportunidade de ler a tradução brasileira dessa obra, cujo original em inglês tem como título "Do Androids Dream of Electric Sheep?" . O escritor é considerado como um produtor de literatura de segunda categoria, no que concordo. Ele também deu origem ao igualmente cultuado filme "Minority Report - A Nova Lei" de Steven Spielberg.
Kuni faz referência à hipótese de que um dia os humanos estarão na posição de transferir a inteligência e a consciência para uma pastilha de silício.
Uma presença marcante, que se manifestará também em outros momentos do texto, é a de Donna Haraway, autora do "Manifesto Ciborgue", traduzido por Tomaz Tadeu da Silva. Essa autora feminista formula a idéia de que as ciências da comunicação e a moderna biologia são construídas sobre um mesmo tipo de movimento: a busca da "tradução do mundo em um problema de codificação". Frente ao poder que os códigos desfrutam, desapareceriam todas s resistências a esse controle instrumental e codificado. Aqui faço uma extrapolação e procuro entender a codificação também como uma codificação binária, uma codificação digital e computadorizada. Mas não nos antecipemos. Mais adiante veremos como Gilles Deleuze se manifesta quanto a esta questão.
Por hora mencionaremos que a codificação computadorizada pode ser dividida em código fonte aberto, ou seja, software livre, e a codificação de propriedade privada. Nesta última o conhecimento é criado e mantido como segredo empresarial, com a finalidade de lucro e a conseqüente concentração de renda.
Cabe assinalar que, conforme estão se definindo o jogo de forças, marchas e contramarchas, entre o software livre e o software de código fechado, teremos uma tradução do mundo que será acessível a todos, porque será de domínio público; ou uma tradução do mundo que será elitista e privatizante, tendo acesso a ela apenas as pessoas que tenham recursos financeiros para pagar pelo código.
Mais adiante Kuni, no subtítulo "O Corpo como Software", comenta o artista plástico australiano Stelarc, que se tornou mais conhecido após as performances que ele chamou de "Suspensões", onde perfurou o próprio corpo com ganchos metálicos atados a pequenas cordas, presas ao teto da sala, que suspendiam seu corpo no ar. Essa exposição também ficou conhecida pelo nome "O Corpo na Dor".
Kuni apresenta a idéia, também defendida por outros autores, de que "os humanos não serão meramente usuários da Internet, eles se tornarão literalmente parte da rede". Essa proposição implica em uma dissolução do que tradicionalmente é considerado como limites do sujeito: o eu está se tornando algo situado muito além da pele.
Ainda com referência ao artista Stelarc, Kuni menciona que "as imagens são imortais, os corpos são efêmeros". Acredito que discutir essa questão seja muito importante na área das artes visuais. E também é de elevada significação nas discussões sobre a "sociedade do espetáculo" e sobre os meios de comunicação como veículos de uma sociedade fortemente assentada em imagens e no imaginário, como é a nossa sociedade globalizada e marcada pela publicidade. Se, por uma lado, podemos acreditar na máxima de que "uma imagem vale mais do que mil palavras", por outro lado, não posso deixar de lembrar de Millor Fernandes e de sua réplica: não é possível expressar essa máxima através de imagens.
Sobre o questão dos limites do sujeito, Kuni acredita que a tecnologia da realidade virtual permite as transgressão das oposições entre masculino/feminino, humano/máquina, tempo/espaço. Nessa perspectiva, a dicotomia entre masculino e feminino é ultrapassada pela concepção e experiência de que o gênero é uma construção social e histórica. Mais adiante, na discussão da obra da artista Lynn Hershman, é defendida a idéia de que existe concordância entre a concepção clássica dos ciborgues, sendo estes uma atualização tecnológica dos humanos, e a tese de Marshal McLuhan de que os meios de comunicação representam uma extensão do corpo humano.
O subtítulo "Novas Heroínas" apresenta a discussão de, entre outras personagens, Lara Croft, do jogo Tomb Rider. Uma das características de Lara é a sua super-sexualização, sendo sugerida uma inerente feminilidade, embora se trate de uma lutadora agressiva. A personagem nunca é mostrada completamente nua e tampouco se envolve em relacionamentos que possam ter conotação sexual. Mas pode-se encontrar na Internet clones de Lara que, por exemplo, a exibem como estrela pornô.


Parte 2

Agora passaremos a bordar o texto "Corpos Monstros" de Ivonne Volkart. Haraway, já bastante citada por Kuni, abre o artigo ao fazer a relação entre a palavra monstro e a palavra demonstração: é isso que aqueles fazem. A pesquisadora de questões das mulheres Rosi Braidotti vê a abundância atual da representação de monstros como um sintoma da sensibilidade pós-nuclear pós-moderna e simultaneamente como uma oportunidade para a constituição de subjetividades alternativas.
"Algo entrou em colapso e o controle foi perdido" pode ser uma exclamação de alerta que se adapta à significação de uma das obras da artista plástica suíça Victorine Müller, pois ela acredita que os corpos monstros demonstram as relações de sujeitos monstros conforme elas vêm emergindo nas recentes décadas, através da fusão entre as novas tecnologias e neoliberalismo econômico. Por seu turno, as esculturas que compõem a obra "Romance Familiar", do artista Charles Ray, foram interpretadas como uma denúncia contra as aberrações das experiências biotecnológicas.
Muitas das obras abordadas por Volkart possuem como tema o declínio ou a extinção da noção androcêntrica de sujeito. A heterossexualidade normalizada teria entrado em colapso e a anormalidade passaria a ser algo fascinante. As tecnologias reprodutivas, como o chamado "bebê de proveta", fertilização in vitro, estariam transformando o masculino e o feminino em algo obsoleto e fazendo declinar a ordem falocrática. A transgressão dos limites de gênero é vista como uma nova oportunidade para a subjetividade. A dissolução da individualidade e do gênero provoca a flexibilização das identidades pós-modernas.
Para Volkart, foram os artistas homens, entre eles Marcel Duchamp e Andy Warhol, que primeiramente sentiram e expressaram que a masculinidade estava se tornando instável.
No subtítulo "O Fluxo dos Corpos Digitais" encontramos a idéia de que há um colapso e uma permeabilidade dos limites anteriormente categóricos entre natureza e tecnologia. Nessa perspectiva, o teórico e artista plástico russo-americano Lev Manovich, propõe o entendimento de que o princípio fundamental da mídia digital é uma "representação numérica". Como conseqüência, temos que os "novos objetos da mídia" podem ser formal e matematicamente descritos, tornando-se "objetos de manipulação algorítmica", podendo então existir em potencialmente infinitas versões. A nova mídia passa a ter como característica fundamental a variabilidade.
O teórico americano Manuel Castells estuda a sociedade da informação como uma rede capitalista global. Haraway chama essa nova lógica de interface e de fluxo "informática da dominação". No texto que tem como título 'Pós-escrito das Sociedades de Controle', Gilles Deleuze também faz referência a uma mudança nas estruturas de poder, situando as sociedades de controle como opostas às sociedades disciplinares, estas últimas uma formulação de Michel Foucault.
Na argumentação de Deleuze fica claro que o "princípio numérico" é usado como uma metáfora para o funcionamento das novas estruturas da ordem social e econômica. Encontramos aqui a noção de que essa nova linguagem é numérica, embora não seja necessariamente binária.
Para esses três autores, Haraway, Manovich e Deleuze, agora é o código que conta como uma nova linguagem, tornando o indivíduo em divíduo. Os fluxos se tornam o princípio dominante para o capitalismo pós-industrial e para os seus sujeitos, sendo que para Deleuze, isso é derivado do princípio numérico. Essas transformações não são apenas uma questão de "evolução tecnológica" mas, mais profundamente, uma mutação do capitalismo. São fenômenos decorrentes do capitalismo ou das políticas neoliberais.
A absorção da "natureza" humana pela tecnologia significa, para a autora, o fim da permeabilidade e do poder reprodutivo de um gênero específico. Genitais e orifícios não fazem mais sentido quando mães não são mais necessárias para dar à luz.
Volkart conclui seu artigo dizendo que o fim do corpo integral (masculino) e de sua sexualidade, com a emergência do poder das minorias femininas, tornam inúteis as regras ou papéis.


Parte 3

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